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domingo, 31 de julho de 2011

Adolescentes são, cada vez mais, atraídos pelo crime - "Não entraram nas vias da violência, simplesmente nunca estiveram fora delas."

Atualmente, essa é uma realidade nacional. Infelizmente, nenhum estado difere do outro no quesito criminalidade. Cada ano que passa constatamos o crescente número no envolvimento de adolescentes em crimes como roubo seguido de morte (latrocínio), tráfico de entorpecentes, entre outros.

Enquanto o Estado não der uma maior assistência à criança e ao adolescente, priorizando a educação,  além de lançar projetos sociais voltados ao esporte e à cultura, esse quadro não será revertido.

Todo mundo sabe o que tem que ser feito. Até mesmo a minha filha de 15 anos já argumentou sobre a questão. 

O que será que falta para os que tem o poder nas mãos tomarem medidas mais eficientes para mudar essa situação?

Pensem nisso e cobrem seus parlamentares e governates. Afinal, a  verdadeira segurança pública começa na infância.

Tânia - escripol em SP

 

http://www.ojornalweb.com/2011/07/31/adolescentes-sao-cada-vez-mais-atraidos-pelo-crime/

Adolescentes são, cada vez mais, atraídos pelo crime


Adolescentes estão envolvidos no assalto seguido de morte de 
policial federal (Foto: Marco Antônio)Adolescentes estão envolvidos no assalto seguido de morte de policial federal (Foto: Marco Antônio)
Flávia Batista

Eles trocaram os livros pelas armas; os brinquedos pelas balas; o sonho de ser jogador de futebol, bombeiro ou médico pelo ideal de liderar o tráfico, de chefiar o grupo criminoso da região onde vivem. São adolescentes, alguns recém saídos da infância e já são procurados por crimes de gente grande. Não brincam de mocinho e bandido. Deixaram a diversão de lado e viraram bandidos de verdade, de armas em punho, dispostos a matar. São temidos por uns e explorados por outros. Têm a vantagem da idade, da tenra idade e de um estatuto que, de certa forma, lhes dá a benesse de tentar outra vez ou, na pior das hipóteses, de poder pagar pela vida bandida com penas mais brandas. Mas ainda assim são crianças. Indivíduos ainda em formação e que não tiveram a chance de escolher qual caminho queriam seguir. Não entraram nas vias da violência, simplesmente nunca estiveram fora delas. As explicações são muitas e são complexas. De um lado, há quem defenda a redução da idade penal como forma de chamá-los à responsabilidade dos seus atos. Do outro, há quem enxergue nisso apenas a repressão e a institucionalização de uma “escola de formação de criminosos”. Mas há um ponto comum para as duas linhas de pensamento: a educação é fator decisivo para a mudança dessa realidade cruel que assola Alagoas e que tende a transformar nossas crianças em assassinos impiedosos.

Sem política de inserção social, crime vira saída

O mundo da violência consegue recrutar, cada vez mais cedo, jovens para atuar em crimes que vão de roubos, pequenos furtos e até assassinatos. São meninos de 12, 13, no máximo 16 anos, que servem ao tráfico, à mão armada, como fiéis escudeiros. Nasceram e viveram todos os seus breves anos numa realidade de “guerra civil pela sobrevivência”. O resultado disso não poderia ser outro, até porque eles não conhecem outra realidade: se transformam em criminosos, dispostos a tudo para alcançar seus objetivos.
“Esses jovens são reflexo da sociedade onde estão inseridos. Vivem numa situação de violência, sem comida, sem estudo, sem saúde. Quem oferece as melhores condições para eles são as suas relações ilícitas. Tudo, todas as circunstâncias os preparam para assumirem um lugar na marginalidade”. As palavras são da socióloga Belmira Magalhães.

Sem estrutura, as crianças “sobram”
Vivendo em condições adversas – vendo pais desempregados, frustrados e bêbados -, na maioria das vezes, a violência doméstica é uma rotina: as crianças crescem sendo espancadas e vendo pais e mães irem às vias de fato quase que rotineiramente.
Sem ter controle dos responsáveis ou escolas onde possam aprender as regras da sociedade, as crianças conhecem a rua, ficam vulneráveis aos perigos, à mercê da ação da marginalidade. “A sociedade não pode cobrar que essas pessoas sejam seres humanos se elas vivem na barbárie. Não é dada a elas a chance de escolher se querem ser criminosos. Esta é a única possibilidade que conhecem”, afirmou Belmira Magalhães.
A falta de uma estrutura que acolha a sociedade e dê condições para homens e mulheres lutarem por uma vida digna é uma das causas do crescimento da violência, segundo apontou a promotora da Infância e da Juventude, Alessandra Beurlen. A representante do Ministério Público Estadual afirma que não vê uma política de enfrentamento real e específica que interrompa o envolvimento da juventude na criminalidade. “O que temos visto, de forma bem acanhada é a implementação de políticas educacionais. Mas de forma muito lenta, incapaz de acompanhar o avanço desenfreado do envolvimento de crianças e adolescentes com o mundo do crime”, avaliou a promotora.
Enquanto estas políticas estruturantes não são implantadas, pais e mães que precisam trabalhar e não têm onde deixar seus filhos. “Precisamos de escolas e creches públicas em tempo integral para que meninos e meninas tenham seu tempo ocupado, sem dar chance de criminosos atuarem”, afirmou. O que Alagoas carece, na visão do Ministério Público, é de ações que impeçam que o crime tenha acesso às crianças. “É mais que uma política de educação. O Estado carece de uma política de investimento nas famílias, em que mães e pais possam sair de suas casas para trabalhar e deixem seus filhos em segurança”.

Casos chocantes com adolescentes protagonistas
Na semana passada, durante a ocupação do conjunto Carminha, no complexo Benedito Bentes, um dos líderes do grupo que comanda o tráfico numa das regiões mais violentas de Maceió foi conhecido pela sociedade. O adolescente de 16 anos, conhecido como Vovô, é o chefe do pedaço. Experiência não falta ao rapaz, que conseguiu se antecipar à mega operação montada pela polícia e deixou sua casa, sem deixar rastro. Nem os 130 homens treinados da polícia foram capazes de encontrara o garoto.
Através das fotos que foram divulgadas pela polícia pode-se ver um jovem, aparentemente como outro qualquer. O rosto adolescente tem as mesmas semelhanças com outros meninos que estão numa sala de aula de uma escola pública ou privada, tendo os questionamentos que todo adolescente de 16 anos têm. Vovô poderia ser um desses adolescentes não sabem que profissão seguir, têm conflitos de gerações com os pais. Poderia até fumar escondido, ou sair e tomar uma bebedeira com a turma de vez em quando. Teria problemas com a namorada, com a moça mais bonita da escola, ou com o time de futebol.

Droga potencializa chances de se viver menos
O envolvimento com o tráfico é decisivo para o envolvimento destes meninos na marginalidade. Eles crescem admirando o chefe do grupo. É aquele cara que tem a melhor casa da favela, que não passa necessidade, que namora a mulher mais bonita da grota, que tem carrão, roupas de marca e, principalmente, que todos respeitam.
É o modelo de vida que querem seguir. “O tráfico e a associação dos adolescentes a este crime é muito perigoso. Vivemos numa sociedade onde o consumo impera e os traficantes têm muito dinheiro. Inevitavelmente, o adolescente fica deslumbrado”, explicou a promotora Alexandra Beurlen.
Enquanto o tráfico age como potencializador desta violência e a sociedade se sente refém, a idéia da criação de mais presídios, o aumento do policiamento armado nas ruas e da redução da idade penal ganham corpo e repercussão em todos os níveis sociais. A repressão passa a ser uma solução imediata: tirar os bandidos das ruas e isola-los em cadeias.

“O ECA não corresponde mais à atualidade”
Para a delegada Cássia Mabel, que está a frente da Delegacia da Criança e do Adolescente há três meses, a rotina de violência a qual está submetida revela um mundo cruel e impiedoso.
A chefe da delegacia situada no Jacintinho acredita que o investimento em políticas públicas que incentivem a permanência de crianças e adolescentes nas escolas, a inserção dos jovens em atividades esportivas e culturais são essenciais para se mudar o perfil de quem está à margem da sociedade. Mas ela é taxativa ao defender que o Estatuto da Criança e do Adolescente (ECA) não corresponde à realidade atual. Por isso, é defensora da redução da idade penal.
“Qual a diferença entre um jovem de 16 anos e um de 18?”, questiona a delegada. Por isso, ela acredita que o mesmo jovem que pode votar e escolher um Presidente da República, também pode responder pelos seus atos, de acordo com o que estabelece o Código Penal.

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